segunda-feira, 14 de maio de 2012

JOAO MULUNGU
Severo D’Acelino

Nascido na Vila de Laranjeiras, na Província de Sergipe Del Rey, no ano de 1851, escravo do Engenho Flor da Rosa. Neste período Laranjeiras liderava o pensamento revolucionário de Sergipe, já há muito notadamente, no sentimento antilusitano em prol republicano, tendo sido, portanto palco de debates acirrados de idéias revolucionárias e como conseqüência, fonte de inspirações dos episódios de resistência da comunidade negra, contra igualmente os lusitanos e por conseguintes os senhores de escravos que cristalizavam o regime de desigualdade social e econômica.
Neste ambiente de ebulição política, foi que o nosso libertário JOÃO MULUNGU cresceu acentuando a sua consciência libertária e ampliando seus conhecimentos do processo conjuntural da Província e daí, estendendo-o a sua comunidade como forma de luta em busca de liberdade ampla, geral e irrestrita.
Sua fuga para o quilombo não há dados formais documentados, mas na lógica dedutiva he de se supor que começou no próprio engenho, na mobilização junto com os grupos predatórios para depois do precoce aprendizado, liderar seu próprio grupo, na luta contra o inimigo mais imediato.
Há noticias diversas dos seus episódios, notadamente as de visões institucionais em cujas interpretações, são desfavoráveis a sua memória, no entanto as visões e interpretações distorcidas tendem com o tempo, diluir e oferecer melhor nitidez a compreensão historia dos fatos a luz da consciência do oprimido, dentro das relações do poder exemplificado no dia a dia da história da humanidade.
A área de atuação de JOÃO MULUNGU, centralizada em Laranjeiras, com variáveis no Vale do Cotinguiba, Japaratuba, Vaza-Barris, Piauí e Poxim, como ponto de referencia estratégica na luta contra o sistema e seu instrumento de repressão: a política.

“MAIOR E MAIS TEMIDO QUILOMBOLA DE SERGIPE”
Assim era denominado pelo poder, para justificar a sua incapacidade de organização ante a força obstinada de JOÃO MULUNGU, na organização e luta da comunidade que a cada dia ampliava o contingente levantado, minando a economia e a organização política da Província, apoiado pelos diversos grupos insatisfeitos com o poder central e local, notadamente as disputas dos Conselhos dos governado e nas corporações militares.
JOÃO MULUNGU
Materializou o pensamento de ANTÔNIO PEREIRA REBOUÇAS, o maior revolucionário negro em Sergipe, a quem deve o estimulo a luta organizada contra o opressor. Foi também usado como trampolim pelo poder e em seu nome os poderosos se utilizaram para legitimar os abusos de poder e ampliar seus patrimônios, saqueando a Província e mandando matar seus adversários políticos e econômicos.

JOÃO MULUNGU
Foi traído por seu antigo companheiro, um escravo do Engenho Flor da Roda, por uns míseros trocados. Fora preso de tocaia no Engenho Flor da Roda, as sombras dos bananais daquele canavial, enquanto que descansava com seus companheiros, Manoel Jurema e Galdino, as 12:00hs do dia 19 de Janeiro de 1876 na Vila de Laranjeiras. Há noticias no relatório do Presidente da Província de que “João Mulungu, preso no dia 13 de janeiro, após cinco dias e cinco noites de combate, em Divina Pastora, preferiu ser enforcado a voltar para a casa do seu antigo senhor”, isso é só uma mostra documental das distorções do poder, pois documentos comprovam que em inicio de Setembro ao final de Novembro, JOÃO MULUNGU, estava em Capela cumprindo pena, condenado pelo juiz da Vila de Rosário.
Para não cair em contradição junto ao central, após ter comunicado que os quilombos na Província haviam acabado, o Presidente baniu JOÃO MULUNGU, da documentação institucional e da História de Sergipe, pois a verdade é que o número de quilombos aumentou até depois de proclamada a Lei Áurea.
LUTA PELO RECONHECIMENTO

A noticia sobre JOÃO MULUNGU, nos fora dada pelo cineasta Djaldino Mota Moreno, interessado em filmar a historia deste famoso quilombo sergipano em super-8, baseado na noticia publicada na coluna Poeira dos Arquivos da Gazeta de Sergipe, nos anos 70 de Autoria de Acrisio Torres. Daí então, despertamos para o fato e iniciamos a pesquisa. O filme não fora feito, mas a vontade de conhecer os episódios de tão importante personagem negro da Historia de Sergipe, continuou gerando uma consciência ampla da importância da resistência negra em Sergipe. A pesquisa tomou corpo e vimos muitos e diversos documentos referenciais sobre o personagem: Ariosvaldo Figueiredo, Lourival Santos, Roberto Conrad além das pesquisas nos arquivos: Publico e Judiciário de Sergipe, Biblioteca Epifânio Dórea, etc., até a elaboração de parecer e apresentação de projetos a Assembléia Legislativa, que foram aprovados e sancionados pelos prefeitos Valter Franco e Wellington da Mota Paixão.
JOÃO MULUNGU
Herói negro sergipano, contestado por uns, aplaudido por outros. As controvérsias,distorções e contradições a ele atribuídas,parte da ignorância e do preconceito e sobretudo , do despeito e desrespeito que nutrem e até o desconhecimento da história das controvérsias sobre os Heróis e até o desconhecimento da história das controvérsias sobre os Heróis Nacionais criados nas caladas das noites e cultuados pela inteligência brasileira.
Introduzido com o advento da escravidão em Sergipe, o negro lutou tenazmente contra o apartheid político, sócio-econômico e cultural, através dos seus diversos agentes tradicionais marcando profundamente a alma do povo sergipano recriando seus valores estéticos , morais ,religiosos históricos, filosóficos e culturais , compondo suas lideranças ,organizações e grupos organizados, elites e heróis.
JOÃO MULUNGU
Protagonista da resistência do segundo quartel do século XIX, liderado a comunidade negra nas organizações guerreiras dos quilombos predatórios em busca da libertação do julgo escravista.

O libertário Afro Sergipano, seguramente da Nações Nagô , homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras cristalizando entre nós o valor de sua magnanimidade, reconhecido 114 anos depois , através dos esforços da Casa de cultura Afro Sergipana pelos poderes públicas de Sergipe , como Herói Negro Sergipano , elevando esta categoria pelos feitos magnânimos a humanidade e consciência política de ancestralidade do Negro Sergipano , constituído-se no primeiro Herói Negro no Brasil a ser reconhecido pelos poderes públicos.
Em dezembro de 1989 é inteirado à Categoria de Herói Estadual pelo Decreto.